Publicado em 18/10/2019
Como nos engajamos com determinadas atividades e o que nos faz manter engajados?
Esta é uma questão bastante desafiadora e qualquer resposta imediata pode parecer reducionista ou simplista. A motivação com a própria vida é uma temática que não se restringe apenas à fase da adolescência e abrange aspectos subjetivos e até mesmo filosóficos.
Costumamos nos engajar com aquilo que atribuímos valor ou com aquilo com o que vislumbramos algum tipo de recompensa positiva, seja a curto, médio ou longo prazo. Quando pensamos, por exemplo, no universo profissional, podemos nos engajar com alguma atividade ou com pessoas que valorizamos, ou com aquilo que enxergamos em relação às perspectivas de crescimento pessoal ou financeiro, com reconhecimento e com o que é recompensador na visão de cada um.
Para além de retornos tangíveis e palpáveis, há também gratificações subjetivas. Nesse sentido, nos engajamos com causas e temas que valorizamos e que consideramos importantes, independentemente dos resultados. Podemos ilustrar esta situação ao imaginar um trabalho voluntário ou um hobby com o qual nos dedicamos.
Se pensarmos então na própria vida, o que seria uma pessoa engajada?
No início de nossas vidas, sobrevivemos porque pessoas se comprometeram com nossa sobrevivência física e psíquica, cuidaram de nós quando éramos indefesos e dependentes. Ao longo do desenvolvimento, ao sermos conduzidos para a autonomia, ou seja, para o comando de nossa própria vida, com independência, a responsabilidade também aumenta. Deixamos de ser indefesos, mas permanecemos vulneráveis, no sentido de aprender a se comprometer consigo mesmo, com sua própria existência. Reconhecer nossa vulnerabilidade e fragilidade diante desta missão é essencial para que o engajamento não se dissipe diante do primeiro revés.
Mais do que ditar regras e parâmetros sobre como conduzir as próprias vidas, cabe a nós, educadores e adultos, revelar aos alunos as possibilidades e a importância do descobrimento de si e do envolvimento neste processo constante de vir a ser, tornando-se consciente e responsável por si.
Nesse trajeto, identificar aquilo que é significativo, descobrir novas fronteiras e horizontes que se revelem em valores fundamentais, perceber-se como um ser que tem possibilidades de escolhas diante da realidade que se apresenta, sem perder de vista que as consequências serão vividas por si mesmo, podem ser bons caminhos para promover o comprometimento com a própria existência.
Em especial na adolescência, aspectos biológicos devem ser levados em conta uma vez que o cérebro está em processo de transformação e diversas áreas ainda não estão totalmente formadas, como por exemplo, o córtex pré-frontal, responsável por prever consequências e analisar com cautela as situações. Portanto, é fundamental exercitar atitudes que levem em conta esses aspectos que estão ainda incipientes. Utilizar estratégias que oportunizam o debruçar-se sobre si mesmo, a identificação de sentimentos, emoções, valores e como tomar boas decisões, pode ser um facilitador para promover o engajamento com a própria vida. Arte, poesia, literatura, modelos inspiradores e trocas de experiências beneficiam esse trabalho, que não tem receita, nem prazo para finalizar. É exercício constante da arte de viver.
“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.”
Fernando Sabino
Autora: Mariana Fancio Gonçalo, Gestora de Conteúdo Metodologia Opee
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